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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Por que caiaque é bom?

Quando tentamos responder o porque gostamos de caiaque, entramos em uma discussão de gostos, hábitos e preferências, e aí fica tudo muito complicado. Mesmo assim topei este desafio e vou tentar explicar. Primeiramente vamos partir de alguns princípios fisiológicos oriundos dos sentidos humanos. Todas as nossas sensações são experimentadas através dos nossos quatro sentidos principais, que são a visão, audição, paladar e tato. Somente com essas experiências reais conseguimos memorizar as sensações e por meio de lembranças ou estímulos, conseguimos reproduzir estas sensações em nossa imaginação. Sendo assim, podemos concluir que o ser humano necessita de experiências reais para completar seu conhecimento. As sensações diversas estimulam reações e emoções que devem ser experimentadas. Somente superando um desafio conseguimos ter o prazer de sentir a emoção da superação. Não precisa ser um desafio radical, mas sim um desafio individual, fazer alguma coisa que não sabemos se somos capazes de realizar. Acredito que o prazer de se utilizar um caiaque está sempre na superação, no enfrentamento dos pequenos desafios impostos cada vez que vai para a água.

Daí entram os argumentos contrários, não tem conforto, há que se realizar esforço físico, fica sempre com a bunda molhada, dá um trabalhão para colocar na água, etc.. Então, vamos contra-argumentar. Acredito que o lugar mais confortável que já desfrutamos foi o útero materno, temperatura ambiente constante, ambiente totalmente protegido, alimentação umbilical, sem necessidade de esforço. A partir do momento que nascemos estamos em uma eterna luta pela sobrevivência, entra aí o aspecto animal do ser Humano. Passamos a sentir fome, calor, frio, sede, medo, segurança, amor. São as experiências que a vida nos impõe. Vamos aprendendo que comer é a cura para fome, que o colo quentinho da mamãe é seguro e assim vamos crescendo e sempre aprendendo a viver até chegarmos à independência total onde podemos explorar nossos próprios horizontes. As experiências e o aprendizado não param e a vontade de interagir com tudo vai nos acompanhar pelo resto de nossas vidas.

Nós só conseguimos andar se produzirmos um desequilíbrio em nossos corpos que será compensado com um movimento das pernas que produzirá um passo. Vamos então voltar ao caiaque, o prazer está na experiência e nas sensações vivenciadas. Acho que vivenciada é a palavra chave, viver cada emoção, sentir cada instante, superar os mínimos obstáculos, sentir-se vivo. Obviamente não é só o caiaque que pode produzir tudo isso, mas tudo que nos coloca em contato com a realidade.

Nos caiaques à vela existe um estímulo extra, que é o desafio constante de conseguir utilizar o vento como propulsão para se deslocar para onde se quer ir. Daí o desafio; não é ir aonde o vento te leva, e sim para onde sua vontade quer alcançar. Claro que qualquer veleiro pode gerar este desafio, mas somente os miúdos podem gerar este desafio em pequenos espaços de água, como uma lagoa, por exemplo. É aí que está o grande diferencial, com poucos recursos qualquer pequeno obstáculo se torna um grande desafio. Na lagoa de Maricá, por exemplo, partindo do boqueirão para a margem oposta, a distância não chega a um quilômetro. Com o vento contra pode-se levar mais de uma hora para percorrer esta distância, ou seja um bom desafio. Com um barco a motor não se gasta nem dois minutos para percorrer esta distância independentemente do vento. Ou seja, com o caiaque à vela temos um desafio que demandará esforço físico e mental para ser cumprido. Em uma confortável lancha teremos um passeio muito rápido e entediante. Com os caiaques à vela podemos superar este desafio várias vezes em um ano, pois o vento muda, seja de intensidade e/ou de direção, o que torna o mesmo trajeto sempre diferente. É um jogo de superação entre a pessoa e o ambiente.

Portanto acredito que a prática deste esporte, assim como tantos outros que nos colocam em contato com nosso ambiente, produzem uma essencial sensação de que estamos vivos e integrados à realidade e ao mundo. O caiaque à vela é importante pois tem um custo muito acessível e pode ser praticado em uma infinidade de ambientes aquáticos e por pessoas vivas de qualquer idade. Exige alguma disciplina, um conhecimento mínimo de navegação, e um mínimo de condicionamento físico. Ou seja, é fácil de ser praticado, não é monótono e é acessível, tanto para aquisição como para manutenção. Aqui cabe um outro comentário, que é a integração com o barco. Como as manutenções são simples, gera uma enorme integração entre o praticante do esporte e o equipamento, o que produz outros desafios fora da água. Modificar, alterar, reparar, substituir, tudo isso passa a ocupar a mente como pequenos desafios a serem superados. Podemos então afirmar que o caiaque à vela permite superação até fora da água.

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