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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O VELEJADOR E O JIPEIRO

Quando escolhemos nossos caminhos estamos exercendo a mais pura forma de liberdade. E é desfrutando desse imenso poder sobre nós mesmos que desnudamos a nossa essência.

Há muitos anos quando ministrava cursos de Qualidade Total na empresa em que trabalhava,  eu exibia, logo na abertura do curso, uma imagem de dois carros um ao lado do outro.  Era um Jipe e uma Ferrari. Logo em seguida eu perguntava: Qual é melhor?  Qual tem mais qualidade? Obviamente todos apontavam a Ferrari.
Em seguida eu apresentava a imagem de uma estrada de terra cheia de erosões com ladeira. Nesse momento eu perguntava : O caminho é esse. E agora,  qual carro é melhor? Nesse momento todos apontavam o Jipe. Daí eu começava a introduzir os conceitos de adequação,  funcionalidade e utilidade.

Hoje eu estava lembrando dessas imagens e repensando a minha vida. Por que eu uso um Jipe Engesa a 13 anos? Por que eu gosto tanto de velejar? Essas questões me intrigaram e passei a buscar respostas.
Lembrei do lema da Engesa: "Quem tem Engesa não precisa de estrada". Esse lema diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre o mundo fora de estrada.

Um Jipeiro é por essência uma pessoa livre e desapegada. Gosta de decidir seus rumos,  seus caminhos e seus objetivos.  Não gosta de limites. Acredita que os obstáculos são desafios a serem superados. Traça metas e objetivos.  Se prepara para as piores condições.  Estuda rotas, obstáculos e alternativas. E sai determinado a atingir o objetivo escolhido.

Alguma semelhança com o velejador?

Pois é,  fiquei agora imaginando uma foto de uma bifurcação onde um lado seria uma longa estrada asfaltada,  lisa,  larga e reta. O outro lado seria uma estrada de terra estreita,  íngreme e cheia de erosões.  No meio haveria uma placa escrito DESTINO e duas setas apontando uma para cada lado, indicando que os dois caminhos levam ao mesmo lugar.

Daí eu perguntei pra mim mesmo: Qual caminho eu escolheria?  Você tem alguma dúvida de qual foi a resposta? Claro que foi a trilha. Daí vem outra questão: Mas, por que? Essa foi bem mais difícil de responder.
Pela lógica eu deveria escolher o caminho mais fácil. Menos energia e esforço para chegar ao mesmo resultado. Mas aí coloco os ingredientes da aventura,  do desafio e da superação. Nesse momento aparece a essência do indivíduo. É o exercício do livre arbítrio. Nem todos chegarão ao destino almejado,  somente os mais preparados e capazes de enfrentar os obstáculos avançarão pelo caminho.

Assim é a nossa vida. Nós escolhemos nossos caminhos. Devemos fazer essa escolha em cada bifurcação.  Devemos avaliar nossas limitações e capacidade em cada etapa. Saber quando devemos pedir ajuda. O mais importante é determinar até onde podemos e queremos seguir sozinhos. Qual sacrifício estamos dispostos a fazer pela nossa escolha?

Agora já deu para perceber que o velejador é o jipeiro dos mares. É a pessoa que está em contato direto com os elementos da natureza. É o ser humano que tem prazer em enfrentar o desafio de escolher seu destino e enfrentar todos os obstáculos impostos. Escolhe estratégias,  estabelece metas e objetivos.  Estuda rotas e meteorologia.  Escolhe por onde quer ir.

Essas pessoas são assim. Está no sangue. Por isso tem as estradas asfaltadas,  os carros esportivos,  os barcos a motor e as lanchas, para as pessoas que não são assim, que preferem outros desafios. E assim temos que nos entender e nos aceitar como somos. Saber que escolhas e avaliações erradas nos trazem problemas maiores do que somos capazes de enfrentar. Nesses momentos devemos reavaliar nossas escolhas,  pedir ajuda e recuar.  Recuar sim, porque voltar atrás permite que seja escolhido um novo caminho.

(Marcelo Rodrigues Maia Pinto - 26/11/2014)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

IPEZIM - Feito com amor

No início de 2014 eu ví uma moça sentada em um banco olhando para a enseada de Jurujuba, tinha uma enorme mochila ao seu lado e uma expressão contagiante de alegria em sua face. Não entendi muito bem aquela situação, mas segui minha vida. No dia seguinte encontrei novamente a mesma moça no galpão náutico do Jurujuba Iate Clube, tentando cobrir com pedaços de plástico uma quilha de ferro fundido, para protegê-la da chuva que ameaçava cair. Neste momento me prontifiquei em ajudar e ofereci uma pequena lona plástica que havia em meu carro para cobrir o restante. No dia seguinte presenciei a chegada de um veleiro, ainda por ser terminado, em um caminhão sujo de pó de minério de ferro. Fiquei extremamente curioso e acompanhei o desembarque do veleiro. Lá estava novamente a moça da mochila, agora acompanhada de um homem barbudo todo empoeirado pelo mesmo pó de minério. Tanto o barbudo quanto a moça estavam radiantes. Esse foi o meu primeiro contato com o casal Luciana Alt e Vitor Moura, e o veleiro era o IPEZIM.

Nossa amizade começou quando tomei conhecimento da fantástica aventura que foi esse veleiro chegar até ali. Aventureira é aquela pessoa curiosa em aprender e experimentar o novo, é destemida em se lançar em desafios, corajosa em buscar o conhecimento necessário para vencer etapas e determinada em alcançar os objetivos estabelecidos. E hoje tenho certeza que esses dois são verdadeiros aventureiros.

A carioquíssima Luciana, ainda criança já praticava vela, participou de regatas e campeonatos em diversas classes. Ainda na fase escolar teve que acompanhar a família que havia se transferido para Belo Horizonte, local pouco adequado para a prática da vela. Mas com seu espírito aventureiro logo se engajou em grupos de espeleologia e passou a explorar as cavernas de Minas Gerais. Já há algum tempo nos grupos de espeleologia veio conhecer um jovem universitário que estava entrando nesse mundo das cavernas, Vitor Moura. Algum tempo depois vieram a namorar e posteriormente se juntaram. Uma união baseada em amor, sonhos e aventuras.

Vitor desde pequeno se interessava por barcos e sonhava um dia poder se aventurar pela costa brasileira ou até pelo mundo afora. Ora vejam que dessa união surgiria a idéia de se adquirir um veleiro para curtir novas aventuras. Mas o dinheiro não era suficiente e nem o local que moravam adequado. Depois de muitos estudos e várias hipóteses analisadas veio a ideia de se construir o IPEZIM.

Essa história é contada e ilustrada no Fotolog Veleiroipe (http://www.fotolog.com.br/veleiroipe/mosaic/).

Passaram-se dez anos e o IPEZIM foi lançado à água e hoje veleja pelas águas da Baía de Guanabara e arredores do Rio de Janeiro, mas tenho certeza que logo ganhará outros mares.

O veleiro IPEZIM é um Multichine 28 construído por Vitor e Luciana durante dez anos. Tenho certeza que só venceram cada um dos dias dessa jornada com muito amor e dedicação um pelo outro. Foram muitas as dificuldades relatadas pelo casal, todas superadas. Boa sorte ao Vitor e à Luciana e parabéns pelo excelente trabalho que fizeram.


Vitor e Luciana no Veleiro IPEZIM em 06/11/2014


Vitor e Luciana no Veleiro IPEZIM em 06/11/2014 - Estavam instalando o radar.